● Governador Tarcísio de Freitas sanciona lei que impõe castração pediátrica de cães e gatos, gerando oposição da Confederação Brasileira de Cinofilia (CBKC) e preocupações com a criação responsável.
● Impactos vão desde o aparecimento de doenças nos animais até a extinção de raças e espécias pelas dificuldades de manejo e reprodução impostas.
A sanção da Lei n. 17.972 pelo governador Tarcísio de Freitas, regulamentando a venda de cães e gatos no estado de São Paulo e impondo a castração pediátrica, provocou uma onda de controvérsia e resistência entre criadores, veterinários e defensores dos direitos dos animais. Publicada no Diário Oficial em 11 de julho, a nova legislação estabelece condições rigorosas para a comercialização de pets, incluindo a exigência de castração, microchipagem e vacinação completa antes da venda.
A Confederação Brasileira de Cinofilia (CBKC), representada por seu Diretor Jurídico, Renato Almada, tem liderado a oposição à lei, destacando os impactos adversos que a castração pediátrica pode ter tanto na saúde dos animais quanto na manutenção das raças. “A castração pediátrica impõe ao pet uma série de riscos. Para a saúde, aumenta a prevalência de casos de obesidade, displasia coxofemural e vários tipos de câncer. Há ainda o desenvolvimento de distúrbios de comportamento e alterações em todo o sistema geniturinário,” afirmou Almada.
Além dos riscos imediatos à saúde dos animais, a CBKC alerta para as consequências a longo prazo da medida, que pode levar à destruição de anos de pesquisa e seleção genética. “Impor a castração pediátrica significa, a médio e longo prazo, a destruição de anos de pesquisa e seleção para melhoramento dessas raças caninas, que podem até ser extintas se essa decisão perdurar. Seriam perdidas décadas de conhecimento, pesquisas e estudos,” enfatizou Dr. Almada.
A seleção de animais é responsável direta pela manutenção do patrimônio genético das raças. Em termos mais populares, é a forma de se manter a identidade e todas as características, habilidades e funções de cada uma delas. É esse o trabalho que dá a cada uma das mais de 300 raças existentes no mundo a garantia de preservação. Faro, porte físico, temperamento, inteligência, audição, obediência são algumas delas. “Atividades como as de cães-guia de cego ou mesmo as de cães de apoio às forças policiais ficariam seriamente comprometidas, já que a possibilidade de manejo, seleção e reprodução seriam diminuídas progressivamente pelo impacto dessa legislação. A castração pediátrica impede essa manutenção e implica na extinção lenta dessas e outras tantas funções que fazem da relação homem e cães um grande sucesso. Nossa sociedade depende deles em várias atividades do dia a dia”, alerta.
A nova lei também proíbe a venda de cães e gatos por pessoas físicas e a exposição desses animais em vitrines fechadas ou em condições exploratórias que causem desconforto e estresse. No entanto, dois trechos do projeto original foram vetados pelo governador: a obrigatoriedade de criadores terem veterinários cadastrados no Conselho Regional de Medicina Veterinária (CRMV-SP) e a sujeição dos infratores às sanções previstas na Lei Federal nº 9.605/98.
A CBKC, em conjunto com a Associação Brasileira da Indústria de Produtos para Animais de Estimação (ABINPET) e o Instituto Pet Brasil, tem atuado intensamente para conscientizar os entes públicos sobre os riscos desta decisão. “Durante todo esse período, agimos de maneira consistente na defesa dos direitos da livre e responsável criação, com intuito de preservação das espécies e do pool genético existente,” declarou Dr. Almada. A entidade já anunciou que tomará medidas legais contra a lei, convencida das inconstitucionalidades que ela apresenta.
A decisão do governo paulista reflete um delicado equilíbrio entre a proteção animal e a liberdade econômica, evidenciando as tensões existentes entre regulamentação e prática comercial. A comunidade cinófila, entretanto, mantém-se firme em sua postura contra a imposição da castração pediátrica, aguardando os desdobramentos judiciais e legislativos que se seguirão.
“É realmente importante que haja uma regulamentação da criação, mas uma regulamentação técnica e que de fato se preocupe em resolver a questão e não trazer pontos que servem a propósitos distintos deste, causando mais problemas. A CBKC, a Abinpet e o Instituto Pet advogam pelo bem-estar animal e vêem nessa questão a oportunidade de construir uma política moderna e efetiva para erradicar pontos importantes como animais abandonados, em situação de rua. A castração pediátrica não colabora para este ponto e vai apenas fomentar o comércio irregular de criação de cães sem um aparato adequado e sem tópicos sensíveis à criação responsável”, conclui.
A polêmica sobre a nova lei deve continuar a mobilizar defensores dos direitos dos animais, criadores e profissionais do setor pet em São Paulo, enquanto o estado busca encontrar um meio-termo que atenda às demandas de todas as partes envolvidas.
Foto: Renato Almada // Diretor Jurídico da CBKC // Divulgação
O lipedema é uma doença crônica e progressiva caracterizada pelo acúmulo anormal de gordura, geralmente nas pernas, quadris e braços. Embora seja frequentemente confundido com obesidade ou retenção de líquidos, trata-se de um distúrbio vascular que afeta majoritariamente mulheres e que, se não tratado, pode comprometer a mobilidade, causar dor intensa e impactar significativamente a saúde física e emocional.
De acordo com o médico vascular Dr. Douglas Sterzza, referência no diagnóstico e tratamento do lipedema, muitas pacientes convivem por anos com a doença sem saber.
“O desconhecimento ainda é um dos maiores desafios. Muitas mulheres passam boa parte da vida acreditando que o problema é estético, quando na verdade se trata de uma doença que avança e gera complicações importantes se não for tratada adequadamente”, explica o especialista.
O que acontece quando o lipedema não recebe tratamento?
Quando não há acompanhamento médico, o lipedema tende a evoluir de maneira contínua, passando por estágios cada vez mais complexos. Segundo o Dr. Sterzza, a evolução pode acarretar:
Aumento progressivo do volume das pernas
O acúmulo de gordura tende a intensificar-se ao longo dos anos. O aumento de volume compromete o uso de roupas, gera sensação de peso e dificulta a mobilidade.
Dor crônica e sensibilidade exacerbada
A dor ao toque é um dos sintomas marcantes. Sem tratamento, ela se torna constante e passa a limitar atividades simples, como caminhar e subir escadas.
Formação de nódulos e endurecimento do tecido
Com o avanço da doença, ocorre a formação de nódulos, fibrose e endurecimento da gordura — estágio que exige abordagens terapêuticas mais complexas, muitas vezes cirúrgicas.
Sobrecarga do sistema linfático
O lipedema pode evoluir para lipo-linfedema, quando há prejuízo do sistema linfático. Isso provoca inchaço intenso, sensação de pernas “cheias” e maior dificuldade de locomoção.
Problemas vasculares associados
O excesso de peso nos membros inferiores favorece o surgimento de varizes e pode agravar quadros de insuficiência venosa.
“A associação entre lipedema e varizes é comum. Por isso, a avaliação vascular completa é fundamental”, reforça o Dr. Sterzza.
Impacto psicológico significativo
A evolução da doença também afeta o emocional. Baixa autoestima, ansiedade e até quadros depressivos são frequentes, agravados pelo julgamento social e pela demora no diagnóstico.
Créditos da Foto: Divulgação
A importância do diagnóstico precoce
O Dr. Douglas Sterzza destaca que identificar o lipedema ainda nos estágios iniciais possibilita controlar a progressão, reduzir sintomas e evitar tratamentos mais invasivos no futuro. Entre os principais sinais de alerta estão:
Acúmulo de gordura desproporcional nas pernas;
Dor e sensibilidade ao toque;
Inchaço persistente;
Histórico familiar;
Dificuldade de perder volume mesmo com dieta e exercícios.
Tratamento: é possível controlar o lipedema?
Embora não exista cura definitiva, o acompanhamento adequado permite controlar a doença e manter qualidade de vida. As principais estratégias incluem:
Drenagem linfática e terapias específicas;
Meias de compressão;
Exercícios orientados;
Controle alimentar;
Lipoaspiração especializada para lipedema, indicada em casos selecionados.
“Cada paciente precisa de uma abordagem individualizada. O mais importante é não ignorar os sintomas e buscar avaliação de um médico vascular experiente na doença”, ressalta o Dr. Sterzza. Se você suspeita de lipedema ou já convive com o diagnóstico, saiba que existem opções eficazes de tratamento. No blog, é possível acessar mais conteúdos educativos sobre sintomas, estágios e manejo da doença.
Quando o cérebro entra em sobrecarga, ele desliga. Literalmente. Esse fenômeno — conhecido como shutdown — é cada vez mais relatado por pessoas com Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH), mas ainda pouco compreendido pela maioria da população.
Apesar de parecer invisível, seus efeitos são profundos: a pessoa trava, perde a capacidade momentânea de pensar com clareza, falar, agir ou lidar com qualquer estímulo externo.
Segundo a psicóloga Sandra Villela, especialista em neurodiversidade e saúde emocional, esse apagão não é frescura, preguiça ou fraqueza.
“O shutdown é um mecanismo de defesa. Quando o cérebro percebe que está recebendo mais estímulos do que consegue processar, ele entra em modo de proteção. A mente simplesmente desliga para evitar um colapso maior”, explica. Quando o cérebro trava: o que é o shutdown?
Diferente da desatenção clássica do TDAH, o shutdown representa um estado de paralisia mental e emocional. Esse travamento pode ser desencadeado por uma soma de fatores: sobrecarga sensorial, excesso de demandas, conflitos emocionais, barulhos, interrupções constantes ou ambientes extremamente estimulantes.
Para muitos, é como se uma “pane” tomasse conta do corpo.
Outros descrevem como um esvaziamento interno, uma incapacidade de reagir ou responder.
Os sintomas mais comuns
Durante o shutdown, o corpo e a mente entram num modo de funcionamento mínimo. Entre os sinais mais relatados, estão:
Vontade súbita de se isolar: qualquer interação social se torna cansativa.
Bloqueio mental: dificuldade em pensar, decidir, organizar ideias ou responder perguntas simples.
Dificuldade de falar: expressar o que está acontecendo parece impossível.
Emoções intensas: irritação, frustração ou choro fácil, sem motivo claro.
Cansaço extremo: sensação de exaustão mental e física.
Sensibilidade sensorial: barulhos, luzes e toques se tornam incômodos ou dolorosos.
Créditos da Foto: Divulgação
De acordo com Sandra Villela, esses sinais são muito mais comuns do que se imagina.
“É muito comum ouvir pacientes dizerem que ‘travaram’ no meio do dia, numa reunião ou até em casa. Muitos acham que é uma falha pessoal, mas é apenas o cérebro pedindo socorro.” Por que isso acontece?
Pessoas com TDAH já lidam diariamente com um volume maior de estímulos internos: pensamentos rápidos, impulsividade, emoções intensas e dificuldades de regulação.
Quando o ambiente adiciona ainda mais demandas, o cérebro chega ao limite.
“Imagine um computador com muitas abas abertas, vários programas rodando ao mesmo tempo e ainda recebendo novas tarefas. Chega um momento em que ele trava. O cérebro de uma pessoa com TDAH funciona da mesma forma”, compara a psicóloga.
Como lidar com o shutdown
Segundo Sandra Villela, não existe “força de vontade” que resolva o shutdown no momento em que ele acontece. O que funciona é:
Com o tempo, criar rotinas de regulação emocional e conhecer seus próprios limites ajuda a reduzir a frequência e a intensidade desses episódios.
A importância de falar sobre isso
Mesmo sendo comum, o shutdown ainda é pouco discutido. No ambiente de trabalho, é frequentemente interpretado como desinteresse; nas relações pessoais, como frieza; e no cotidiano, como preguiça.
Essa falta de compreensão só aumenta o sofrimento emocional e a sensação de inadequação.
“Quando as pessoas entendem que não é fraqueza, mas uma resposta neurológica, tudo muda: o paciente se culpa menos e quem convive passa a oferecer suporte e não julgamento”, reforça Sandra Villela. Para quem vive com TDAH — e para quem convive
A mensagem principal é simples: o shutdown é real, tem explicação científica e merece atenção. Quanto mais falarmos sobre isso, mais pessoas poderão reconhecer o que sentem e buscar ajuda especializada.
Estudos apontam que a falta de limites está ligada ao aumento da ansiedade, da baixa autoestima e até do burnout feminino
Um dos maiores desafios emocionais das mulheres modernas não é apenas a sobrecarga de papéis, mas a incapacidade de estabelecer limites. Conhecida popularmente como “síndrome da boazinha”, essa dificuldade em dizer “não” leva muitas mulheres a aceitarem mais responsabilidades do que conseguem suportar, com impactos diretos em sua saúde mental e emocional.
Um estudo da Psychology Today revela que pessoas com dificuldade de negar pedidos apresentam níveis mais elevados de estresse e propensão a quadros depressivos. No Brasil, pesquisa do Ibope (2023) mostrou que 64% das mulheres afirmam já ter adoecido por tentar agradar a todos, mesmo contra sua vontade.
Para a psicóloga e terapeuta integrativa Laura Zambotto, essa realidade é recorrente no consultório. “Muitas mulheres sentem culpa só de imaginar dizer não. Elas acreditam que precisam ser sempre agradáveis e disponíveis. O resultado é um acúmulo de demandas que as afasta de si mesmas e gera esgotamento emocional”, afirma.
Especialistas em comportamento humano explicam que essa dificuldade está ligada a fatores culturais e sociais. “A mulher foi educada, por séculos, a ocupar o lugar de cuidadora e servidora. Essa expectativa permanece, mesmo quando ela ocupa papéis de liderança ou busca autonomia na vida pessoal”, acrescenta Laura.
O preço da boazinha, porém, é alto: ansiedade, baixa autoestima, depressão, esgotamento, dificuldade em relacionamentos e sintomas físicos como insônia, enxaquecas e dores musculares. Estudos recentes da USP também apontam que a falta de assertividade está relacionada ao aumento de casos de burnout entre mulheres, especialmente as que acumulam jornada dupla.
Para romper esse ciclo, especialistas defendem a importância de práticas de autoconhecimento e do fortalecimento da autoestima. “Aprender a dizer não é um ato de amor próprio e coragem. Quando a mulher se coloca em primeiro lugar, ela conquista relações mais equilibradas e preserva sua saúde emocional. A mulher pode continuar sendo uma pessoa boa, com princípios e valores, sem precisar agradar a todos ao seu redor”, conclui Laura.