Um estudo da AMPRO apontou que 99% das indústrias afirmam que o trade marketing ganhou mais importância nos últimos cinco anos, mostrando que o setor precisa evoluir em digitalização, execução e mensuração para acompanhar canais mais complexos
O trade marketing está passando por um processo de transformação no setor industrial. As empresas que fabricam bens de consumo ou de capital enfrentam mais concorrência, a mudança de comportamento dos canais de venda e a digitalização acelerada.
No cenário atual, o trade marketing deixa de ser apenas a ativação de materiais no ponto de venda e assume um papel estratégico, melhorando o posicionamento da marca, aumentando a aderência com o varejo e conectando-se ao consumidor final.
Como o trade marketing ajuda a indústria a se posicionar melhor no mercado?
O trade marketing evoluiu de uma simples estratégia de exposição no ponto de venda para uma ferramenta de diferenciação e fortalecimento de marca. Ao investir em ações coordenadas de visibilidade no varejo, merchandising planejado, capacitação de equipes e suporte técnico, a indústria cria um posicionamento que vai além da disputa por preço. Esse tipo de atuação reforça a identidade da marca e amplia sua presença junto aos canais de distribuição e consumidores.
A tecnologia tem papel decisivo nesse processo. Soluções digitais como aplicativos de trade marketing, sistemas de acompanhamento de promotores e plataformas de análise de dados – todas essas com o apoio da inteligência artificial como forma de automatização – permitem acompanhar a execução em campo com precisão.
Por meio delas, é possível monitorar o cumprimento de planogramas, verificar a presença de produtos nas gôndolas, auditar campanhas e gerar relatórios automáticos em tempo real. Essa digitalização trouxe previsibilidade e velocidade para decisões que antes dependiam de visitas presenciais e relatórios manuais.
Além do ganho operacional, essa transformação fortalece o relacionamento entre indústria e varejo. Quando as marcas compartilham informações e oferecem suporte técnico baseado em dados, passam a ser vistas como parceiras estratégicas e não apenas fornecedoras. Esse novo nível de integração melhora o fluxo de comunicação, aumenta a confiança entre os elos da cadeia e reflete em melhores negociações, maior espaço nas prateleiras e um posicionamento mais sólido no mercado.
O trade marketing conecta consumidores com a marca?
Mesmo com o avanço do digital, o ponto de venda físico continua sendo um local de decisão importante. Ao tornar o produto visível, acessível e diferenciado no PDV, por meio de materiais de comunicação, demonstrações, amostras, integração com QR codes ou realidade aumentada, a indústria ativa o consumidor no momento da “última milha”.
Quando essa estratégia alcança o comprador final, gera comportamento de compra repetida e maior fidelidade. Por exemplo, equipes de vendas treinadas para demonstrar benefícios do produto ou displays inteligentes que destacam a categoria fazem com que o cliente perceba valor e não apenas preço.
O dado de que 99% das indústrias consideram o trade marketing mais relevante do que há cinco anos também evidencia o valor crescente dessa conexão entre marca e consumidor, apesar das lacunas ainda existentes na medição de resultados.
O trade marketing tem espaço para crescimento
Embora o trade marketing seja reconhecido há décadas no varejo, sua aplicação plena na indústria brasileira ainda é limitada. Muitas operações funcionam com processos desconectados, ausência de indicadores comparáveis e baixa digitalização da execução. Isso gera perda de verba comercial, ruptura não detectada e dificuldade real de provar retorno sobre iniciativas no ponto de venda.
A diversificação dos canais, loja física, e-commerce, marketplaces e modelos omnicanal, ampliou a complexidade operacional. Sem visibilidade integrada e sem critérios unificados de execução, produtos perdem espaço rapidamente e se tornam intercambiáveis diante do consumidor. Essa perda de diferenciação não decorre apenas do canal, mas da incapacidade de medir, ajustar e validar a operação em tempo real.
O trade marketing tem potencial para corrigir essas distorções, mas sua efetividade depende de elementos que muitas indústrias ainda não estruturaram: governança de dados, processos consistentes de execução, adoção de tecnologia e patrocínio da liderança para sustentar mudanças. Sem isso, permanece como função tática, e não como componente estratégico da competitividade industrial.